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Respire, entenda-se, espere

< Voltar Marilia Marcucci

Se no passado, pensar em tempo e espaço já era um desafio gigantesco, imagine hoje neste mundo disruptivo, acelerado e totalmente incerto?

Nós não aceitamos mais a espera já parou para pensar nisso? Nossas crianças, principalmente, têm dificuldade enorme de esperar.

Estamos exigindo respostas da nossa mente e do coração com a mesma velocidade com que interagimos por meio das telas portáteis.

O pensamento precisa ser degustado, digerido, contemplado. Ele não é um pedaço de vidro que nós carregamos no bolso.

O mesmo ocorre com os nossos sentimentos. Eles também não acompanham a velocidade das coisas e, muitas vezes, são atropelados pelos carros desenfreados do nosso entorno.

Então, em vez de compreendermos nossos sentimentos em profundidade e buscar as palavras certas para expressá-los, nós nos rendemos à pressão e expomos de forma muito rasa o que verdadeiramente sentimos, e o que pensamos também.

Precisamos degustar nossos encantos e satisfações, nossas dores e incongruências. É assim que aflora o prazer insaciável da descoberta.

Eu proponho uma pausa. Pausa para um olhar por dentro. Pausa para percorrermos nossas paredes por dentro, não pelas varandas ou pela fachada. Nós precisamos de 'paredes bem revestidas', 'estâncias aconchegadas' e de um lugar íntimo, para 'recessos bons de cavas'.

Essas aspas eu extraí de um poema do João Cabral de Melo Neto chamado 'A mulher e a casa', que nos propõe um percurso de entendimento mais intimista e menos mediado pelas aparências ou pelo o que se vê por fora.

A espera é uma aliada importante dessa jornada. Nosso entendimento não é um exercício meramente instantâneo. Há de haver prazer nas descobertas, não rapidez.